O texto
de hoje será uma reflexão sobre os contos de fadas como ferramenta importante simbólica
no processo psicoterápico analítico. Com esta reflexão, tem o grande objetivo
fazer uma leitura simbólica do feminino nas mulheres contemporâneas. Podemos
pensar: “Será que diante da necessidade
atual, as mulheres integram o masculino com um meio para se manter em evidência
nos novos papéis por elas desempenhados?”. Contudo, quando a mulher não integra
este masculino de maneira adequada, sufoca seu feminino, gerando conflitos a
respeito de si mesma e no relacionamento com os outros, acarretando
dificuldades de adaptação, esbarrando especialmente nos relacionamentos.
No
decorrer do tempo a história das mulheres mudou, partiu dos papéis
desempenhados em casa para o espaço público das cidades, do trabalho, da
política, da guerra, resumidamente do papel de vítimas para ativas, aquelas que
insistem nas relações entre os sexos e integra a masculinidade.
Em
outro texto, comentei sobre os conceitos principais sobre o feminismo. Destaco
novamente, que é por certo uma das principais fontes contemporâneas das
transformações relacionadas ao despertar do feminino, que evidenciou muitas
conquistas aos direitos das mulheres, mas que ao mesmo tempo despertou
consideráveis dúvidas e conflitos em mulheres a respeito de si mesma, que
determina que o interesse da mulher é pela alma, ou seja, “para ela, tem haver
com sua noção de identidade; portanto é mais uma busca interior do que uma
tentativa de encontrar seu lugar no mundo em geral”.
Nos
dias atuais, o movimento das mulheres em buscar seu espaço ideal, um equilíbrio
e uma integração com os princípios universais femininos. Ser mulher nos dias de
hoje implica em buscar sua alma, atualmente é natural que as mulheres ocupem as
mesmas posições que os homens no mercado profissional, e ao mesmo tempo, homens
e mulheres também estão dividindo as responsabilidades pelo lar e pela família.
É
importante ressaltar que as mudanças atuais não atingem todos os indivíduos ao
mesmo tempo nem com a mesma intensidade, em geral as mulheres estão presentes
nas mudanças, de coração e alma expressando vivências com conflitos, culpas e
questionamentos, buscando caminhos em suas próprias trajetórias, com objetivo
de encontrar seus próprios valores em todas as esferas da vida.
Certas
vivências são bastante dolorosas e consequentemente muito difíceis de serem
contidas pelo ego, a partir do momento que não se consegue lidar com estas
situações emocionais, pode haver a possibilidade destas situações serem
reprimidas, negadas ou submetidas a qualquer outro mecanismo para serem
afastadas da consciência, que por sua vez, continuará com a necessidade da
verdade e manterá a produção do sofrimento psíquico até que se dilua e integre
estas situações. Com isso, se reforça a necessidade de um envolvimento mais
profundo e corajoso com as forças femininas durante o processo psicoterapêutico
com mulheres, proporcionando a devida estrutura para um enfrentamento destas
vivências reprimidas, negadas ou mascaradas.
Através
da psicologia analítica, podemos abrir possibilidades às mulheres buscarem bem
estar e qualidade de vida, sem a necessidade de alterar sua rotina, mas sim,
conhecendo-se um pouco mais. Visto que a teoria Junguiana busca o equilíbrio
através do passeio por todas as possibilidades do indivíduo, podendo adequar o
comportamento dentro da situação vivida, sempre procurando conhecer as
polaridades.
Em todas as
etapas do desenvolvimento humano, somos envolvidos por contos e mitos passados
de geração à geração, entramos em contato com estas estórias na escola, em
reuniões familiares ou em brincadeiras entre crianças, ou seja, de alguma
forma, sempre entramos em contato com o universo simbólico dos contos, mitos e
ritos. Os contos de fadas nos são apresentados sempre com seus fabulosos trajes
simbólicos e com suas requintadas, porém, simples forma, contudo eles nos
mostram as linhas básicas do destino humano, a evolução pela qual todos os
indivíduos devem passar. Racionalmente os contos de fadas não são compreendidos
desta maneira, muitas vezes são vistos apenas como tolas histórias infantis,
porém, eles assim como os sonhos, penetram nas camadas inconscientes e ali
deposita sua mensagem primordial e ao ser tocado simbolicamente esta semente
germina trazendo possibilidade de um restabelecimento saudável do caminho da
psique.
Para compreender melhor, citarei
alguns exemplos dos temas presentes nos contos de fadas com o objetivo de
demostrar o quanto os enredos e tramas dos contos estão ligadas á dinâmica vivenciada
por todos.
A
Justiça:
O mundo real raramente é justo, mas nos contos de fadas os bons são quase
sempre recompensados e os maus severamente castigados. Nem a própria morte
consegue intrometer-se num final feliz e justo. A consciência de que existe
possibilidade de transformação através da justiça natural é uma parte
importante do encanto dos contos de fadas.
As
Fadas:
As fadas fazem parte da cultura popular de muitos países e, no passado, era
muito vulgar acreditar-se nelas, em especial nas áreas rurais. Dizia-se que
eram espíritos ou anjos cadentes ou descendentes de crianças que Eva escondeu
de Deus nos sonhos, ou remanescentes de uma raça primitiva de seres humanos. De
um ponto de vista psicológico diremos que, nos mitos como nos contos, essas
personagens são figuras arquetípicas que à primeira vista, não tem nada a ver
com seres comuns. Podem estar associadas à figura da mãe arquetípica, à velha
sábia, ou à representação da Amina positiva.
As
Bruxas:
Aparecem como fada má. Encarnam o orgulho ferido e o rancor. Podem representar
aspectos da Sombra; a personificação da Anima negativa, demoníaca; aquela que
tem o poder da destruição e dos feitiços.
O
verdadeiro amor vence tudo: Nos contos de fadas é o amor e não o
dinheiro, a posição social e poder que fazem girar o mundo. Um príncipe pode
casar com a criada da família, ou a prisioneira de uma bruxa. Nem mesmo aqueles
que asseguram que nunca se casarão, resistem ao amor; o seu destino será apaixonar-se.
No plano psicológico, isso pode significar; para uma mulher e integração do
Animus positivo e para o homem, a integração da Anima positiva. A grosso modo
significa a possibilidade do estabelecimento de ligações afetivas.
Ao
considerar, mediante a teoria analítica, que todo individuo nasce com todos os
núcleos arquetípicos e são os complexos afetivos que interferem na estrutura
deste indivíduo, tendo assim importante papel no desenvolvimento da
personalidade, podemos afirmar que trabalhar estes complexos afetivos durante a
psicoterapia, proporciona o reencontro com a essência, libertando a pessoa,
submetida ao processo, de seus padrões egóicos.
No
trabalho psicoterápico, os contos de fadas podem ser utilizados como um
elemento facilitador do processo, contribuindo com o paciente em seu
desenvolver. O fundamental neste momento é o significado simbólico que o conto
terá no momento em que é colocado, já que de fato, conforme Silveira (1997), os
contos tem origem nas camadas profundas do inconsciente e pertencem ao mundo
dos arquétipos, todos fatores que interessam e contribuem com a psicologia
analítica.
Assim
como, as mulheres ao ouvirem a história, poderão ser levadas a uma mudança
pessoal, isso através das imagens que esta história conduzirá ao seu
inconsciente e desta forma trabalhar seus conteúdos e resolver problemas
eventuais
Esta
integração pode ser positiva, possibilitando a mulher seu verdadeiro despertar
feminino através desta integração, além de manter as mulheres as conquistas já
atingidas e as novas possibilidades que se abrem, porém, este processo não é
simples assim para todas as mulheres, para algumas esta masculinidade torna-se
capaz de sufocar o feminino, criando barreiras para que sua essência flua e
gerando conflitos a respeito de si mesmas e que em geral esbarra principalmente
nos relacionamentos, sejam amorosos, afetivos ou profissionais. Neste contexto
se faz necessário quebrar as barreiras criadas dentro desta condição, diluindo
assim os entraves resultando na maturação de suas relações com os outros e
consigo mesma. Parte-se do principio que esta quebra não é simples assim,
afinal, estamos tratando de aspectos subjetivos difíceis de serem alcançados,
especialmente pela potencialidade da rigidez e racionalidade características
nas mulheres com estes conflitos ativados.