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sábado, 29 de outubro de 2016

A velhice: A realidade incômoda.

Durante a graduação, tive a oportunidade de estagiar dentro da universidade, grupo de idosos. O nome deste grupo era UAM- Universidade do Adulto Maior. Cada idoso matriculado nesta disciplina, vinculado a instituição Metodista do Sul- IPA, proporcionava um grupo operativo como espaço de reflexão.
Trabalhar com idosos, mostra a desadaptação e o descaimento que lhes são impostos. Perceber o quanto a velhice os obriga a atos de renúncia diante das novas situações vividas, levando-os a uma falta de confiança e esperança, que os tornam alienados e desmotivados perante a vida. Néri (2000, p.92) afirma que:
"Ao envelhecer, as pessoas se confrontam com novos desafios e novas exigências. As limitações físicas são acrescidas àquelas que a sociedade coloca, como os preconceitos e os estereótipos, e o grande desafio é construir permanentemente o próprio caminho e desenvolver atitudes que as levem a superar suas dificuldades, integrando limites e possibilidades de conquistar mais qualidade de vida.
            
        A velhice tem de passar por situações de aprendizagem, muitas vezes, imposta pela situação social e física em que vive, tem de aprender a ajustar sua vida à perda do vigor físico, à redução salarial e à falta de controle do que lhe restou. Obriga-se a lidar com a ausência de seus familiares, a estabelecer relações sociais com pessoas da mesma idade, e às vezes em piores condições físicas. Além disso, necessita ajustar-se a um novo comportamento sexual, desenvolver uma adequada filosofia de vida que o prepare para enfrentar a morte (BEAUVOIR, 1976).
Em alguns fatores psicológicos, físicos e sociais que nos levaram a refletir ao interesse em atuar nessa lacuna, que fica entre a perda dos familiares e a adaptação na instituição asilar. Entre esses fatores, destacam-se os seguintes:

• perda da identidade;
• baixa auto-estima;
• diminuição de atividades físicas e até a completa inatividade,por problemas de saúde ou por falta de oportunidade de realizar pequenos exercícios físicos;
• perda da capacidade laborativa uma vez que não é permitida a realização de pequenas tarefas dentro da instituição;
• perda do controle de suas próprias finanças, visto que, não é facultado aos mesmos o controle de sua própria aposentadoria;
• distanciamento do mundo externo;
• poucas oportunidades de lazer.

A carência de atenção e têm grande dificuldade em lidar com suas perdas, e ao mesmo tempo resistência a novas situações. A tristeza parece traduzir o fato de não mais ser alguém e não poder contar com seus antigos companheiros. Isto os leva a viverem no passado, como se quisessem amenizar a angústia que sentem com a realidade. Ao se sentirem excluídos do meio social, afasta-se de atividades grupais.
Por fim, neste sentido, cabe a nós profissionais da saúde mental, promover ações para melhoria da adaptação a esta situação e conseqüentemente, da qualidade de vida dos idosos institucionalizados.
A importância com a realização das sessões psicoterápicas, uma evolução do trabalho pelo vínculo de confiança que irá se estabelecer entre os membros do grupo, terapeuta, co-terapeuta e observador. Esses vínculos passarm a ser para os elementos do grupo uma forma de segurança, apoio e compreensão, surgindo então sentimentos de pertença.
        O grupo propõe a ser um espaço para dividir as angústias, como também para melhor conhecer o outro. Muitas das dificuldades enfrentadas por eles eram comuns a todos, como abandono, perda de familiares, problemas de saúde, entre outros.  Cada participante pôde, de certa forma, resgatar sua identidade, validando sua história e sua vida, ou seja, reconstituindo o “Eu”. 

Referências:

BEAUVOIR, S de. A velhice: a realidade incômoda. 2.ed. Rio de Janeiro-São Paulo: Difel/Difusão Editorial S.A., 1976.

NERI, A. L; FREIRE, S. A. (orgs.) E por falar em boa velhice. Campinas, SP: Papirus, 2000.

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