Entender
o significado do brinquedo e do brincar é um caminho necessário e útil para
poder conhecer a criança e o seu processo de desenvolvimento. O brinquedo não é
um mero divertimento, ele é sério, e, a criança ao jogar, mergulha fundo em seu
jogo, em um mundo à parte, no qual o mundo do adulto não tem mais lugar, é um
outro universo. A criança é criança porque ela brinca (Volpato, 2001).
A
partir das palavras do Volpato, podemos compreender através da cultura surda
que já citei no blog, o brincar integram-se ao cotidiano das pessoas sob várias
formas, sejam elas individuais, sejam coletivas, sempre obedecendo ao espírito
e a necessidade cultural de cada sujeito. Percebe-se que o brincar é definido
por uma cultura preexistente que o leva a ser uma atividade cultural que
presume a aquisição de estruturas que a criança assimilará à sua maneira em
cada nova atividade lúdica, ou seja, para brincar é necessário possuir os
pré-requisitos para o brinquedo que são a sua cultura específica. Trata-se de
uma atividade que permite atribuir outros significados à vida cotidiana.
Se a
criança não sabe brincar, poderá se tornar um adulto que não sabe pensar, pois
a alma e a inteligência crescem na criança por meio do jogo, do brinquedo.
Portanto o objetivo da infância é treinar pelo jogo as funções, tanto
psicológicas quanto físicas, pois o jogo é o centro da infância (Palladino,
1999).
Com
relação à importância do brincar para o desenvolvimento infantil, a atividade
implica a presença de regras e ações imaginativas, ainda que esses componentes
não estejam igualmente envolvidos em diferentes modalidades de brincadeiras. No
caso do faz-de-conta, a imaginação é uma característica central, que
corresponde a uma crescente libertação do perceptual-imediato.
Ao
considerar a surdez uma diferença, não existe uma patologia nem uma
inferioridade do sujeito em relação aos demais. Essa diferença recai sobre a
ênfase no desenvolvimento de recursos próprios para interagir com o meio, até
mesmo por meio de uma língua própria que permita ao surdo expressar-se. A
autora considera a surdez a partir do modelo sociocultural no qual ela é vista
como uma diferença em relação à comunidade ouvinte e não como uma deficiência.
A deficiência é algo patológico em que o insucesso na aquisição e o
desenvolvimento da língua padrão oral, como nas atividades escolares, é
atribuído à própria deficiência, que limita a capacidade dos sujeitos (Almeida,
2000).
A
linguagem no brincar da criança surda é um tema que tem recebido pouca atenção
e que merece um esforço investigativo maior, pois envolve uma forma de
atividade peculiar à infância, de grande relevância para a formação do sujeito.
O estudo do âmbito das ações imaginativas pode somar esforços no sentido de
ampliar a compreensão do desenvolvimento na surdez e contribuir para a
discussão crítica das condições sociais oferecidas para esse desenvolvimento.
Por fim, cabe
salientar que o método clínico é lingüístico discursivo. O brincar, tal qual
concebido, detém função clínica desde o processo diagnóstico e adentra a
terapêutica enquanto técnica, instrumental ou recurso propulsor para a
dialogia, como mencionou Palladino (1999) ao afirmar que o brincar emerge no
espaço onde existe a palavra, como possibilidade de a criança transitar na
polissemia, de operar simbolicamente. O brincar no atendimento clínico,
funciona como técnica, possibilitando por meio do método clínico entender as
mudanças na linguagem da criança.
Hoje em dia, pode-se
observar maior aproximação entre a Psicologia, fonoaudiologia e a educação,
pela expansão das ações no contexto escolar. A Psicologia vem buscando com o
passar dos anos melhorar sua atuação a fim de resgatar o papel social voltado à
promoção da saúde na escola. As instituições voltadas para a educação e o
atendimento de pessoas com deficiências necessitam do atendimento clínico em
função da sua clientela. Durante o trabalho terapêutico, fortalece a relação
com a escola discutindo os dados de evolução da criança, as dificuldades que
permeiam o trabalho e os progressos apresentados.
A escola deve ser
vista como um local privilegiado de observação em que ocorre um encontro do psicólogo,
fonoaudiólogo com as crianças, professores e famílias. Isso leva esse
profissional a direcionar o olhar para as crianças que apresentam
comprometimento na comunicação oral e/ou escrita com o intuito de minimizar as
diferenças. Observar como as crianças brincam na escola pode ser início do
tratamento, ou seja, é a partir dele que a criança começa. Por meio das
brincadeiras é possível à criança projetar-se e também construir-se.
Referências:
Almeida, E. O. C. (2000). Leitura
e surdez: um estudo com adultos não oralizados. Rio de Janeiro: Revinter.
Freire, R. M. A. (1990). A
abordagem dialógica: uma proposta social em fonoaudiologia. Tese de Doutorado, PUC-SP, São Paulo.
Palladino, R. R. R. (1999). O
jogo na atividade fonoaudiológica.
Manuscrito não publicado.
Volpato, G. (2001). O
que é brinquedo (3ª ed.). São Paulo: Brasiliense.
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