Durante a graduação,
tive a oportunidade de estagiar dentro da universidade, grupo de idosos. O
nome deste grupo era UAM- Universidade do Adulto Maior. Cada idoso matriculado
nesta disciplina, vinculado a instituição Metodista do Sul- IPA, proporcionava
um grupo operativo como espaço de reflexão.
Trabalhar com idosos,
mostra a desadaptação e o descaimento que lhes são impostos. Perceber o quanto
a velhice os obriga a atos de renúncia diante das novas situações vividas,
levando-os a uma falta de confiança e esperança, que os tornam alienados e
desmotivados perante a vida. Néri (2000, p.92) afirma que:
"Ao envelhecer, as pessoas se confrontam com novos
desafios e novas exigências. As limitações físicas são acrescidas àquelas que a
sociedade coloca, como os preconceitos e os estereótipos, e o grande desafio é
construir permanentemente o próprio caminho e desenvolver atitudes que as levem
a superar suas dificuldades, integrando limites e possibilidades de conquistar
mais qualidade de vida.
A velhice tem de passar
por situações de aprendizagem, muitas vezes, imposta pela situação social e
física em que vive, tem de aprender a ajustar sua vida à perda do vigor físico,
à redução salarial e à falta de controle do que lhe restou. Obriga-se a lidar
com a ausência de seus familiares, a estabelecer relações sociais com pessoas
da mesma idade, e às vezes em piores condições físicas. Além disso, necessita
ajustar-se a um novo comportamento sexual, desenvolver uma adequada filosofia
de vida que o prepare para enfrentar a morte (BEAUVOIR, 1976).
Em alguns fatores
psicológicos, físicos e sociais que nos levaram a refletir ao interesse em
atuar nessa lacuna, que fica entre a perda dos familiares e a adaptação na
instituição asilar. Entre esses fatores, destacam-se os seguintes:
• perda da
identidade;
• baixa auto-estima;
• diminuição de
atividades físicas e até a completa inatividade,por problemas de saúde ou por
falta de oportunidade de realizar pequenos exercícios físicos;
• perda da capacidade
laborativa uma vez que não é permitida a realização de pequenas tarefas dentro
da instituição;
• perda do controle
de suas próprias finanças, visto que, não é facultado aos mesmos o controle de
sua própria aposentadoria;
• distanciamento do
mundo externo;
• poucas
oportunidades de lazer.
A carência de atenção
e têm grande dificuldade em lidar com suas perdas, e ao mesmo tempo resistência
a novas situações. A tristeza parece traduzir o fato de não mais ser alguém e
não poder contar com seus antigos companheiros. Isto os leva a viverem no
passado, como se quisessem amenizar a angústia que sentem com a realidade. Ao
se sentirem excluídos do meio social, afasta-se de atividades grupais.
Por fim, neste
sentido, cabe a nós profissionais da saúde mental, promover ações para melhoria
da adaptação a esta situação e conseqüentemente, da qualidade de vida dos
idosos institucionalizados.
A importância com a
realização das sessões psicoterápicas, uma evolução do trabalho pelo vínculo de
confiança que irá se estabelecer entre os membros do grupo, terapeuta,
co-terapeuta e observador. Esses vínculos passarm a ser para os elementos do
grupo uma forma de segurança, apoio e compreensão, surgindo então sentimentos
de pertença.
O grupo propõe a ser
um espaço para dividir as angústias, como também para melhor conhecer o outro.
Muitas das dificuldades enfrentadas por eles eram comuns a todos, como
abandono, perda de familiares, problemas de saúde, entre outros. Cada participante pôde, de certa forma,
resgatar sua identidade, validando sua história e sua vida, ou seja,
reconstituindo o “Eu”.
Referências:
BEAUVOIR, S de. A velhice: a realidade incômoda. 2.ed. Rio de Janeiro-São Paulo: Difel/Difusão Editorial S.A., 1976.
NERI, A. L; FREIRE, S. A. (orgs.) E por falar em boa velhice. Campinas, SP: Papirus, 2000.