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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Por que no carnaval as pessoas soltam as fantasias nas fantasias?

O carnaval é espaço no qual muitas pessoas libertam suas fantasias com as máscaras, sem terem que sofrer com a censura oficial, moral, social ou religiosa. 
O carnaval desvela no palco da vida, as fantasias desde as mais íntimas às mais saudáveis e criativas. Através das máscaras podemos retirar durante o carnaval nossas máscaras sociais coladas ao nosso corpo e à nossa alma.
A fantasia é o arquiteto da psicologia profunda, onde dá formas aparentemente absurdas ou incompreensíveis para satisfazer os desejos. O mundo interno do homem é um mundo rico em fantasias e desejos.
As antigas tradições sapienciais sempre representaram o mundo interno do ser humano através da dança, dos cultos sagrados, das pinturas, da escrita, das iniciações espirituais, em fim das mais diversas manifestações culturais. As fantasias estão no campo do simbólico. Se Carl Gustav Jung estivesse vivo provavelmente ele se deliciaria com o carnaval, apesar de ter sido educado numa família protestante tradicional. Poderia ver a simbologia do inconsciente coletivo e os arquétipos soltos, brincando, mascarados se soltando livres, leves e soltos.
Como estamos vivendo o século da ansiedade, automaticamente estamos vivendo sob a égide da fantasia. Vivemos em um mundo onde a fantasia é incrementada e reforçada, muitas vezes, pelos nossos pais, pela televisão, novelas, cinemas, propaganda etc.  E a questão é até que ponto estas fantasias podem ser favoráveis ou não às nossas vidas. A fantasia é a arte do imaginário, uma imaginação, um devaneio, um sonho acordado. Fantasia é um dos mecanismos de defesa do ego e, portanto, aparece com freqüência nos estados de frustração. Para reduzir a frustração ou crio uma imaginação ou crio um bloqueio de evitação sobre algo que possa me deixar frustrado.     
Muitas pessoas aparentam ser fria, mas na realidade estão evitando as emoções causadas por possíveis frustrações.
Mas o que é o mecanismo de defesa? Nada mais, é um processo mental inconsciente que possibilita ao ego reduzir a ansiedade ou de estresse. São mecanismos de defesa à racionalização, a projeção, conversão, fantasia, generalização, repressão etc.
É normal ter fantasias? É. Você pode fantasiar o que desejar, consciente que é uma criação sua. Você pode entrar e sair dela quando quiser e não é obrigado a realizá- la. A questão quanto à normalidade é uma questão de envolvimento: o quanto à fantasia está preenchendo sua vida ao invés da realidade.A realidade está focada na razão e a fantasia está na emoção. A fantasia se torna um problema quando ela é pode estar dependente de uma ilusão e a ilusão é o engano dos sentidos ou da inteligência, é algo efêmero, inadequado, uma falha de leitura, interpretação de um fato e a percepção inexata de um objeto ou de dado contexto.
            Liberamos nossas fantasias, exibicionismos, e procuramos externar as emoções: medos, raivas e desejos.A psicologia explica em recalques: fatos e situações reprimidas, que fazem muito mal a saúde. É necessário e saudável livrar-nos desses problemas, traumas, angústias. O carnaval pode ser útil para isso.
            Assim como, vivemos sob autoritarismo muitas das vezes sutilmente camuflado (de governo, família, escola, patrão, igreja), uma sociedade de exclusão, excesso de leis que não funcionam, regras ineficazes de serem cumpridas, desejos inatingíveis, direitos não concedidos, doenças, contas a pagar, balas perdidas, queremos momentos de alívio, de esquecimento, de descontração, chega de discursos absurdamente demagógicos. Dessa forma através da liberação utópica das fantasias suportamos mais um ano e desejamos um feliz ano novo a cada ano.Com a perda dos sentidos, o carnaval se torna positivo. É uma possibilidade de aliviar o estresse, a tensão, pessoal e social, no extravasar nossos problemas. Não é por bondade que os governos e grandes organizações patrocinam este neurótico “circo e pão” para o povo, como faziam os romanos há 2000 anos.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Abordagem terapêutica para atender surdos.

Muitas pessoas me perguntam em que abordagem é usada para trabalhar com surdos. Não existe abordagem terapêutica específica para atender o surdo usando a língua de sinais (LIBRAS), não se pode restringir o campo, ao contrário, ele deve ser ampliado.
A criança que nasce surda em uma família ouvinte necessita de acompanhamento e conhecimento em LIBRAS o quanto antes, e o atendimento Psicológico independe de faixa-etária. A participação dos pais em todo esse processo de acompanhamento e aprendizado é essencial.
Surdez, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é a perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, de forma: leve, moderada, severa, profunda.
            O surdo não oralizado necessita do conhecimento da língua de sinais, que é uma língua natural como as línguas orais. É importante ressaltar que a comunicação é uma necessidade expressiva do ser humano, o que possibilita a interação entre sujeitos em uma sociedade.
A falta de comunicação gera isolamento, preconceito e baixa autoestima, e estes conflitos muitas vezes são interpretados de forma equivocadas alterando assim o comportamento do surdo levando-o a agressividade, intolerância, individualismo.
É importante pontuar que ser surdo é ser diferente e não propriamente deficiente. O sujeito surdo tem e desenvolve habilidades próprias, a inclusão social do surdo acontecerá com a participação direta da família, responsáveis e cuidadores.
O acompanhamento psicológico em LIBRAS possibilitará condições para uma melhor convivência do surdo com a família, a sociedade e em especial ao grupo que estiver inserido.
A psicoterapia em LIBRAS permitirá ao surdo conhecer a si próprio como também o processo  relevante de construção de sua identidade e autonomia.



terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Escola X Famílias: Integração

Compreender os momentos de transição são esperados dentro do ciclo desenvolvimento da família, porém esses eventos são estressores que podem ser vivenciados de formas diversas pelas famílias. No que se refere a transição para a escolarização,  pode provocar na família uma revisão de muito de seus valores, podendo portanto ser vivenciado enquanto um momento de crise.  
Todos nós sabemos que a escola representa um contexto diversificado de desenvolvimento e aprendizagem uma vez que constitui-se em um espaço que reúne uma variedade muito grande de conhecimentos, atividades, regras e valores. É um espaço físico, psicológico, social e cultural em que os sujeitos que ali estão organizam seu conhecimento conforme as atividades programadas e realizadas em sala de aula e fora dela.  
A escola possui objetivos e metas determinadas que são organizados com o intuito de promover a aprendizagem e efetivar o desenvolvimento das funções psicológicas superiores: memória seletiva, criatividade, associação de ideias, organização e sequência de conhecimentos, dentre outras. Este espaço funciona de forma preditiva, ou seja, é um espaço que reúne momentos de atividades estruturados conforme objetivos programados e outros momentos que os estudantes interagem com os demais.
A família corresponde ao primeiro ambiente de socialização do sujeito e uma das principais instituições mediadoras dos padrões e modelos culturais. Ela é transmissora de valores, crenças, ideias e significados presentes na sociedade. Exerce uma forte influência no comportamento dos sujeitos, especialmente nas crianças. Nas experiências familiares é que são geradas as formações inicias de repertórios comportamentais, ações bem como resolução de problemas. É importante salientar que a experiência de vivencia da escolaridade é algo esperado no ciclo de desenvolvimento da família. Reconhece-se que quando há afeto, reciprocidade e equilíbrio nas relações, estes fatores podem ser considerados protetivos, contribuindo para que esta passagem tanto para a família bem como para a criança aconteça de maneira mais tranquila.
O contato com outros colegas é um fator importante para que o estudante melhor se adapte à rotina escolar. As trocas vivenciadas entre os estudantes fomenta o interesse pelas atividades e conhecimentos que são transmitidos no contexto escolar. Tal vivencia contribui para que o desenvolvimento pessoal e intelectual ocorra de maneira positiva dentro desse novo microssistema.
É importante apontar que o apoio dos pais e∕ou cuidadores da criança em relação ao acompanhamento da experiência escolar é visualizada na disponibilidade de tempo e recursos. São práticas as parentais que promovem a aproximação entre família e escola. Pode-se considerar enquanto exemplos dessas práticas: o tempo para acompanhar os deveres escolares, o suporte para tirar dúvidas, momentos para conversa a respeito de como está sendo esse momento com novos colegas e professores, acompanhamento de reuniões escolares. Esses momentos proporcionados e vivenciados contribuem para que a criança perceba que esta experiência que está tendo é significativa e que os adultos que os cuidam, importam-se e valorizam o momento que está vivendo.
Esse modelo de compreensão do desenvolvimento humano é coerente a compreensão do desenvolvimento da família ao longo do ciclo vital e as transições que esta vive. Enquanto microssistema a família sofre influência de outros microssistemas, e a entrada de um filho na escola (que também é um microssistema) tende a refletir na dinâmica relacional da família. Por isso, família e escola precisam ser pensadas enquanto sistemas que são afetados um pelo outro.
Por fim, muitas Famílias apresentam dificuldades em estabelecer rotinas, linguagem clara, afeto, garantir combinados, tende a vivenciar essa fase com menos estresse. Já famílias que passam por momentos de instabilidade (como recasamento, mudança de emprego, morte, doenças), estudos indicam que os filhos tendem a apresentar mais dificuldade de adaptação e podem apresentar comportamentos internalizantes na escola.
Acredita-se que, cada vez mais, família e escola precisam estar integradas, fomentando dialogo e parcerias para garantir que as crianças que ali estão conseguiam apropriar-se em sua capacidade máxima da aprendizagem proporcionada.
O psicólogo escolar, segundo perspectiva de Souza (1997), deve ter convivência com as crianças e a escola, podendo fazer uso de observação participante, entrevistas abertas, participação em espaços lúdicos e visitas domiciliares, visando estabelecer vínculos, criando espaços de escuta e oportunidades de dar voz aos professores, às crianças e às famílias. Ou seja, acolher e ouvir a queixa escolar, procurando desde o início fazer questionamentos que pudessem levar a uma reflexão sobre aquilo que era tido como problema, ouvindo mais de uma pessoa e realizando observações das crianças em sala e da dinâmica do cotidiano.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Maternidade - Sofre com as visões antigas?

As últimas décadas do século XX foram marcadas por alterações nos valores, práticas e papéis sociais desempenhados pelos indivíduos. Hoje, as mulheres das camadas médias e altas vêm conseguindo uma inserção social cada vez maior e, aos poucos, vêm alcançando uma situação de relativa igualdade com os homens, pelo menos no espaço público.
Atualmente, o adiamento da maternidade tornou-se um fato comum entre aquelas com uma carreira profissional. Existe uma coincidência entre os melhores anos na vida da mulher para a construção e consolidação de uma carreira e os melhores anos para que ela tenha filhos. As mulheres engajadas em sua ascensão profissional muitas vezes não querem interrompê-la em prol da maternidade, pois a carreira – assim como os cuidados envolvidos na criação de um filho, especialmente em seus primeiros anos de vida – exige uma dedicação quase que integral. A maternidade, desta forma, acaba por ser postergada.
O adiamento da maternidade, esperando firmar-se profissionalmente e conseguir independência econômica, se estende, em alguns casos, por tanto tempo que as condições apropriadas nunca chegam, ou somente advêm quando a gravidez passa a ser de risco, e, então, o projeto de ser mãe pode tornar-se praticamente inviável para elas.
Com o surgimento da pílula anticoncepcional e a maior eficácia dos métodos contraceptivos, pode-se dizer que as mulheres – pelo menos as dos segmentos sociais mais altos – se tornaram responsáveis por sua sexualidade, podendo optar por ter ou não filhos e por quando tê-los, ou seja, elas se perguntam o que efetivamente querem e não mais cumprem um destino que lhes cabe pelo simples fato de terem nascido mulher. Antes voltadas para os desejos dos outros – um dos pilares da subjetividade feminina –, para a satisfação daqueles à sua volta, elas se voltam agora para seu crescimento e desenvolvimento pessoais, começando a produzir sua própria palavra e a consolidar progressivamente práticas sociais transformadoras, ainda que, algumas vezes, a um elevado custo, tanto social quanto subjetivo.
No que diz respeito à opção por ter ou não filhos, apesar das mulheres percebem grande mudança na sociedade com relação à antiga visão de que, para ser completa, uma mulher tem que ser mãe. O fato de que a mulher que não tem filhos ainda é vista como uma "coitada", uma "pessoa inferior", alguém que não conseguiu cumprir o seu principal papel.
Assim, podemos dizer que algumas mulheres atualmente começam a desconstruir antigos determinismos sociais, conseguindo impor suas opções pessoais sobre essas exigências ainda tão fortemente presentes no discurso social. Parece que as opções abertas às mulheres continuam a se expandir, mesmo que essas novas escolhas ainda tragam para elas muitas dúvidas e conflitos. Podemos concluir afirmando que diferentes possibilidades começam a se abrir às mulheres de hoje. Um longo caminho, contudo, ainda necessita ser percorrido para que antigas visões que sempre constrangeram as escolhas femininas sejam de todo erradicadas.