O
carnaval é espaço no qual muitas pessoas libertam suas fantasias com as
máscaras, sem terem que sofrer com a censura oficial, moral, social ou
religiosa.
O
carnaval desvela no palco da vida, as fantasias desde as mais íntimas às mais
saudáveis e criativas. Através das máscaras podemos retirar durante o carnaval
nossas máscaras sociais coladas ao nosso corpo e à nossa alma.
A
fantasia é o arquiteto da psicologia profunda, onde dá formas aparentemente
absurdas ou incompreensíveis para satisfazer os desejos. O mundo interno do
homem é um mundo rico em fantasias e desejos.
As
antigas tradições sapienciais sempre representaram o mundo interno do ser
humano através da dança, dos cultos sagrados, das pinturas, da escrita, das
iniciações espirituais, em fim das mais diversas manifestações culturais. As
fantasias estão no campo do simbólico. Se Carl Gustav Jung estivesse vivo
provavelmente ele se deliciaria com o carnaval, apesar de ter sido educado numa
família protestante tradicional. Poderia ver a simbologia do inconsciente
coletivo e os arquétipos soltos, brincando, mascarados se soltando livres,
leves e soltos.
Como
estamos vivendo o século da ansiedade, automaticamente estamos vivendo sob a
égide da fantasia. Vivemos em um mundo onde a fantasia é incrementada e
reforçada, muitas vezes, pelos nossos pais, pela televisão, novelas, cinemas,
propaganda etc. E a questão é até que
ponto estas fantasias podem ser favoráveis ou não às nossas vidas. A fantasia é
a arte do imaginário, uma imaginação, um devaneio, um sonho acordado. Fantasia
é um dos mecanismos de defesa do ego e, portanto, aparece com freqüência nos
estados de frustração. Para reduzir a frustração ou crio uma imaginação ou crio
um bloqueio de evitação sobre algo que possa me deixar frustrado.
Muitas
pessoas aparentam ser fria, mas na realidade estão evitando as emoções causadas
por possíveis frustrações.
Mas o
que é o mecanismo de defesa? Nada mais, é um processo mental inconsciente que
possibilita ao ego reduzir a ansiedade ou de estresse. São mecanismos de defesa
à racionalização, a projeção, conversão, fantasia, generalização, repressão
etc.
É
normal ter fantasias? É. Você pode fantasiar o que desejar, consciente que é
uma criação sua. Você pode entrar e sair dela quando quiser e não é obrigado a
realizá- la. A questão quanto à normalidade é uma questão de envolvimento: o
quanto à fantasia está preenchendo sua vida ao invés da realidade.A realidade
está focada na razão e a fantasia está na emoção. A fantasia se torna um problema
quando ela é pode estar dependente de uma ilusão e a ilusão é o engano dos
sentidos ou da inteligência, é algo efêmero, inadequado, uma falha de leitura,
interpretação de um fato e a percepção inexata de um objeto ou de dado
contexto.
Liberamos
nossas fantasias, exibicionismos, e procuramos externar as emoções: medos,
raivas e desejos.A psicologia explica em recalques: fatos e situações
reprimidas, que fazem muito mal a saúde. É necessário e saudável livrar-nos
desses problemas, traumas, angústias. O carnaval pode ser útil para isso.
Assim
como, vivemos sob autoritarismo muitas das vezes sutilmente camuflado (de
governo, família, escola, patrão, igreja), uma sociedade de exclusão, excesso
de leis que não funcionam, regras ineficazes de serem cumpridas, desejos inatingíveis,
direitos não concedidos, doenças, contas a pagar, balas perdidas, queremos
momentos de alívio, de esquecimento, de descontração, chega de discursos
absurdamente demagógicos. Dessa forma através da liberação utópica das
fantasias suportamos mais um ano e desejamos um feliz ano novo a cada ano.Com a
perda dos sentidos, o carnaval se torna positivo. É uma possibilidade de
aliviar o estresse, a tensão, pessoal e social, no extravasar nossos problemas.
Não é por bondade que os governos e grandes organizações patrocinam este
neurótico “circo e pão” para o povo, como faziam os romanos há 2000 anos.