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sábado, 23 de julho de 2016

Reflexão: Contos de fadas como ferramenta Psicoterápica

O texto de hoje será uma reflexão sobre os contos de fadas como ferramenta importante simbólica no processo psicoterápico analítico. Com esta reflexão, tem o grande objetivo fazer uma leitura simbólica do feminino nas mulheres contemporâneas. Podemos pensar: “Será  que diante da necessidade atual, as mulheres integram o masculino com um meio para se manter em evidência nos novos papéis por elas desempenhados?”. Contudo, quando a mulher não integra este masculino de maneira adequada, sufoca seu feminino, gerando conflitos a respeito de si mesma e no relacionamento com os outros, acarretando dificuldades de adaptação, esbarrando especialmente nos relacionamentos.
No decorrer do tempo a história das mulheres mudou, partiu dos papéis desempenhados em casa para o espaço público das cidades, do trabalho, da política, da guerra, resumidamente do papel de vítimas para ativas, aquelas que insistem nas relações entre os sexos e integra a masculinidade.
Em outro texto, comentei sobre os conceitos principais sobre o feminismo. Destaco novamente, que é por certo uma das principais fontes contemporâneas das transformações relacionadas ao despertar do feminino, que evidenciou muitas conquistas aos direitos das mulheres, mas que ao mesmo tempo despertou consideráveis dúvidas e conflitos em mulheres a respeito de si mesma, que determina que o interesse da mulher é pela alma, ou seja, “para ela, tem haver com sua noção de identidade; portanto é mais uma busca interior do que uma tentativa de encontrar seu lugar no mundo em geral”.
Nos dias atuais, o movimento das mulheres em buscar seu espaço ideal, um equilíbrio e uma integração com os princípios universais femininos. Ser mulher nos dias de hoje implica em buscar sua alma, atualmente é natural que as mulheres ocupem as mesmas posições que os homens no mercado profissional, e ao mesmo tempo, homens e mulheres também estão dividindo as responsabilidades pelo lar e pela família.
É importante ressaltar que as mudanças atuais não atingem todos os indivíduos ao mesmo tempo nem com a mesma intensidade, em geral as mulheres estão presentes nas mudanças, de coração e alma expressando vivências com conflitos, culpas e questionamentos, buscando caminhos em suas próprias trajetórias, com objetivo de encontrar seus próprios valores em todas as esferas da vida.
Certas vivências são bastante dolorosas e consequentemente muito difíceis de serem contidas pelo ego, a partir do momento que não se consegue lidar com estas situações emocionais, pode haver a possibilidade destas situações serem reprimidas, negadas ou submetidas a qualquer outro mecanismo para serem afastadas da consciência, que por sua vez, continuará com a necessidade da verdade e manterá a produção do sofrimento psíquico até que se dilua e integre estas situações. Com isso, se reforça a necessidade de um envolvimento mais profundo e corajoso com as forças femininas durante o processo psicoterapêutico com mulheres, proporcionando a devida estrutura para um enfrentamento destas vivências reprimidas, negadas ou mascaradas.
Através da psicologia analítica, podemos abrir possibilidades às mulheres buscarem bem estar e qualidade de vida, sem a necessidade de alterar sua rotina, mas sim, conhecendo-se um pouco mais. Visto que a teoria Junguiana busca o equilíbrio através do passeio por todas as possibilidades do indivíduo, podendo adequar o comportamento dentro da situação vivida, sempre procurando conhecer as polaridades.
Em todas as etapas do desenvolvimento humano, somos envolvidos por contos e mitos passados de geração à geração, entramos em contato com estas estórias na escola, em reuniões familiares ou em brincadeiras entre crianças, ou seja, de alguma forma, sempre entramos em contato com o universo simbólico dos contos, mitos e ritos. Os contos de fadas nos são apresentados sempre com seus fabulosos trajes simbólicos e com suas requintadas, porém, simples forma, contudo eles nos mostram as linhas básicas do destino humano, a evolução pela qual todos os indivíduos devem passar. Racionalmente os contos de fadas não são compreendidos desta maneira, muitas vezes são vistos apenas como tolas histórias infantis, porém, eles assim como os sonhos, penetram nas camadas inconscientes e ali deposita sua mensagem primordial e ao ser tocado simbolicamente esta semente germina trazendo possibilidade de um restabelecimento saudável do caminho da psique.
            Para compreender melhor, citarei alguns exemplos dos temas presentes nos contos de fadas com o objetivo de demostrar o quanto os enredos e tramas dos contos estão ligadas á dinâmica vivenciada por todos.

A Justiça: O mundo real raramente é justo, mas nos contos de fadas os bons são quase sempre recompensados e os maus severamente castigados. Nem a própria morte consegue intrometer-se num final feliz e justo. A consciência de que existe possibilidade de transformação através da justiça natural é uma parte importante do encanto dos contos de fadas.
As Fadas: As fadas fazem parte da cultura popular de muitos países e, no passado, era muito vulgar acreditar-se nelas, em especial nas áreas rurais. Dizia-se que eram espíritos ou anjos cadentes ou descendentes de crianças que Eva escondeu de Deus nos sonhos, ou remanescentes de uma raça primitiva de seres humanos. De um ponto de vista psicológico diremos que, nos mitos como nos contos, essas personagens são figuras arquetípicas que à primeira vista, não tem nada a ver com seres comuns. Podem estar associadas à figura da mãe arquetípica, à velha sábia, ou à representação da Amina positiva.
As Bruxas: Aparecem como fada má. Encarnam o orgulho ferido e o rancor. Podem representar aspectos da Sombra; a personificação da Anima negativa, demoníaca; aquela que tem o poder da destruição e dos feitiços.
O verdadeiro amor vence tudo: Nos contos de fadas é o amor e não o dinheiro, a posição social e poder que fazem girar o mundo. Um príncipe pode casar com a criada da família, ou a prisioneira de uma bruxa. Nem mesmo aqueles que asseguram que nunca se casarão, resistem ao amor; o seu destino será apaixonar-se. No plano psicológico, isso pode significar; para uma mulher e integração do Animus positivo e para o homem, a integração da Anima positiva. A grosso modo significa a possibilidade do estabelecimento de ligações afetivas.

Ao considerar, mediante a teoria analítica, que todo individuo nasce com todos os núcleos arquetípicos e são os complexos afetivos que interferem na estrutura deste indivíduo, tendo assim importante papel no desenvolvimento da personalidade, podemos afirmar que trabalhar estes complexos afetivos durante a psicoterapia, proporciona o reencontro com a essência, libertando a pessoa, submetida ao processo, de seus padrões egóicos.
No trabalho psicoterápico, os contos de fadas podem ser utilizados como um elemento facilitador do processo, contribuindo com o paciente em seu desenvolver. O fundamental neste momento é o significado simbólico que o conto terá no momento em que é colocado, já que de fato, conforme Silveira (1997), os contos tem origem nas camadas profundas do inconsciente e pertencem ao mundo dos arquétipos, todos fatores que interessam e contribuem com a psicologia analítica.
Assim como, as mulheres ao ouvirem a história, poderão ser levadas a uma mudança pessoal, isso através das imagens que esta história conduzirá ao seu inconsciente e desta forma trabalhar seus conteúdos e resolver problemas eventuais
Esta integração pode ser positiva, possibilitando a mulher seu verdadeiro despertar feminino através desta integração, além de manter as mulheres as conquistas já atingidas e as novas possibilidades que se abrem, porém, este processo não é simples assim para todas as mulheres, para algumas esta masculinidade torna-se capaz de sufocar o feminino, criando barreiras para que sua essência flua e gerando conflitos a respeito de si mesmas e que em geral esbarra principalmente nos relacionamentos, sejam amorosos, afetivos ou profissionais. Neste contexto se faz necessário quebrar as barreiras criadas dentro desta condição, diluindo assim os entraves resultando na maturação de suas relações com os outros e consigo mesma. Parte-se do principio que esta quebra não é simples assim, afinal, estamos tratando de aspectos subjetivos difíceis de serem alcançados, especialmente pela potencialidade da rigidez e racionalidade características nas mulheres com estes conflitos ativados.

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