As
últimas décadas do século XX foram marcadas por alterações nos valores,
práticas e papéis sociais desempenhados pelos indivíduos. Hoje, as mulheres das
camadas médias e altas vêm conseguindo uma inserção social cada vez maior e,
aos poucos, vêm alcançando uma situação de relativa igualdade com os homens,
pelo menos no espaço público.
Atualmente, o adiamento da maternidade tornou-se um fato comum
entre aquelas com uma carreira profissional. Existe uma coincidência entre os
melhores anos na vida da mulher para a construção e consolidação de uma
carreira e os melhores anos para que ela tenha filhos. As mulheres engajadas em
sua ascensão profissional muitas vezes não querem interrompê-la em prol da
maternidade, pois a carreira – assim como os cuidados envolvidos na criação de
um filho, especialmente em seus primeiros anos de vida – exige uma dedicação
quase que integral. A maternidade, desta forma, acaba por ser postergada.
O adiamento da maternidade, esperando firmar-se profissionalmente
e conseguir independência econômica, se estende, em alguns casos, por tanto
tempo que as condições apropriadas nunca chegam, ou somente advêm quando a
gravidez passa a ser de risco, e, então, o projeto de ser mãe pode tornar-se
praticamente inviável para elas.
Com o surgimento da pílula anticoncepcional e a
maior eficácia dos métodos contraceptivos, pode-se dizer que as mulheres – pelo
menos as dos segmentos sociais mais altos – se tornaram responsáveis por sua
sexualidade, podendo optar por ter ou não filhos e por quando tê-los, ou seja,
elas se perguntam o que efetivamente querem e não mais cumprem um destino que
lhes cabe pelo simples fato de terem nascido mulher. Antes voltadas para os
desejos dos outros – um dos pilares da subjetividade feminina –, para a
satisfação daqueles à sua volta, elas se voltam agora para seu crescimento e
desenvolvimento pessoais, começando a produzir sua própria palavra e a
consolidar progressivamente práticas sociais transformadoras, ainda que,
algumas vezes, a um elevado custo, tanto social quanto subjetivo.
No que diz respeito à opção por ter ou não filhos, apesar das
mulheres percebem grande mudança na sociedade com relação à antiga visão de
que, para ser completa, uma mulher tem que ser mãe. O fato de que a mulher que
não tem filhos ainda é vista como uma "coitada", uma "pessoa
inferior", alguém que não conseguiu cumprir o seu principal papel.
Assim,
podemos dizer que algumas mulheres atualmente começam a desconstruir antigos
determinismos sociais, conseguindo impor suas opções pessoais sobre essas
exigências ainda tão fortemente presentes no discurso social. Parece que as
opções abertas às mulheres continuam a se expandir, mesmo que essas novas
escolhas ainda tragam para elas muitas dúvidas e conflitos. Podemos concluir
afirmando que diferentes possibilidades começam a se abrir às mulheres de hoje.
Um longo caminho, contudo, ainda necessita ser percorrido para que antigas
visões que sempre constrangeram as escolhas femininas sejam de todo
erradicadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário