Seguidores

domingo, 5 de junho de 2016

Quero ser mulher....



O filme que fez sucesso , este ano, na bilheteria chama-se A GAROTA DINAMARQUESA, dirigida pelo Tom Hoper. Neste mesmo filme, foi realizado com a base na história real da primeira cirurgia de redesignação sexual, destaca discussão sobre afetos, sublimação e constituição do sujeito.
Na história, Gerda e Einer, considerado como um casal feliz, ambos os pintores na Dinamarca do período entreguerras. A mudança acontece após uma brincadeira: Einer traveste-se de mulher e assume o nome de Lili, para acompanhar Gerda em um baile sem ser notado. Este ato funda uma nova subjetividade e , a partir de então, é Lili quem rouba a cena.
O grande mérito desta obra, embasado em uma história real, é justamente conduzir a narrativa problematizando não apenas a experiência de Lili, mas a reação que ela provoca nos amigos, na própria esposa, e no contexto público.
O principal drama da Lili encontra seu ápice ao aventar-se a possibilidade da realização da cirurgia de redesignação sexual, por meio qual a Lili estaria livre do último elo com Einer.
Se hoje, tal procedimento é de baixo risco, na época suas chances de fracasso eram altíssimas. Paradoxalmente, a sobrevivência de Lili poderia implicar em sua morte. Igualmente graças á organização política, pessoas trans podem hoje encontrar certos amparo e trocas de experiências e saberes entre si, o que não era o caso dos anos 20.
A grande diferença serve para ressaltar o papel central de Gerda, que mesmo sabendo que tal caminho, implicaria no fim de seu casamento, apoia incondicionalmente Lili, na busca por sua identidade e por sua nova vida. Através da dificuldade, apresentada pela Gerda, por ser uma mulher, encontrava para viver de sua arte, ao passo que o (então) marido Einer, gozava de um sucesso retumbante. A nova mudança ocorre, quando usa a Lili como modelo, convencendo seu marido a posar para ela vestindo sapatilhas de ballet. Para o pintor, no entanto, a situação revela a verdade sobre a sua essência e torna cada vez mais impossível viver sob a identidade de um homem.
Sua relação é migrada da cama para a tela, evocando uma imagem acabada de uma das versões freudianas da sublimação, processo psíquico no qual se abre mão de uma satisfação sexual direta em beneficio de uma atividade cultural. Gerda depara-se assim o grande sucesso inesperado a partir dos retratos que pinta da Lili, onde então a mesma recusa-se a voltar pintar e decide: “Quero ser uma mulher..”Assim como, uma característica muito forte da personagem principal, Lili, é uma mulher á frente do seu tempo tanto no sentido de vanguarda social quanto da antecipação do sujeito, tal como a Psicanálise a concebe.
Por fim, o roteiro do filme e a brilhante atuação dos atores. Pela primeira vez, encontra-se tanto uma bilheteria quanto uma narrativa para o público grande, no fim, tão interessante quanto a transição da protagonista é a forma como a esposa lida com a situação. Por isso, não é difícil enxergar uma heroína tanto em Lili quanto em Gerda. Assim, A Garota Dinamarquesa a extraordinária de Lili, pode ser classificada como um belo retrato das dores do casamento e do amor incondicional.

  


Nenhum comentário:

Postar um comentário