O filme que fez
sucesso , este ano, na bilheteria chama-se A GAROTA DINAMARQUESA, dirigida pelo
Tom Hoper. Neste mesmo filme, foi realizado com a base na história real da
primeira cirurgia de redesignação sexual, destaca discussão sobre afetos,
sublimação e constituição do sujeito.
Na história,
Gerda e Einer, considerado como um casal feliz, ambos os pintores na Dinamarca
do período entreguerras. A mudança acontece após uma brincadeira: Einer
traveste-se de mulher e assume o nome de Lili, para acompanhar Gerda em um
baile sem ser notado. Este ato funda uma nova subjetividade e , a partir de
então, é Lili quem rouba a cena.
O grande mérito
desta obra, embasado em uma história real, é justamente conduzir a narrativa
problematizando não apenas a experiência de Lili, mas a reação que ela provoca
nos amigos, na própria esposa, e no contexto público.
O principal
drama da Lili encontra seu ápice ao aventar-se a possibilidade da realização da
cirurgia de redesignação sexual, por meio qual a Lili estaria livre do último
elo com Einer.
Se hoje, tal
procedimento é de baixo risco, na época suas chances de fracasso eram altíssimas.
Paradoxalmente, a sobrevivência de Lili poderia implicar em sua morte.
Igualmente graças á organização política, pessoas trans podem hoje encontrar
certos amparo e trocas de experiências e saberes entre si, o que não era o caso
dos anos 20.
A grande
diferença serve para ressaltar o papel central de Gerda, que mesmo sabendo que
tal caminho, implicaria no fim de seu casamento, apoia incondicionalmente Lili,
na busca por sua identidade e por sua nova vida. Através da dificuldade,
apresentada pela Gerda, por ser uma mulher, encontrava para viver de sua arte,
ao passo que o (então) marido Einer, gozava de um sucesso retumbante. A nova
mudança ocorre, quando usa a Lili como modelo, convencendo
seu marido a posar para ela vestindo sapatilhas de ballet. Para o
pintor, no entanto, a situação revela a verdade sobre a sua essência e torna
cada vez mais impossível viver sob a identidade de um homem.
Sua relação é
migrada da cama para a tela, evocando uma imagem acabada de uma das versões
freudianas da sublimação, processo psíquico no qual se abre mão de uma
satisfação sexual direta em beneficio de uma atividade cultural. Gerda depara-se
assim o grande sucesso inesperado a partir dos retratos que pinta da Lili, onde
então a mesma recusa-se a voltar pintar e decide: “Quero ser uma mulher..”Assim
como, uma característica muito forte da personagem principal, Lili, é uma
mulher á frente do seu tempo tanto no sentido de vanguarda social quanto da
antecipação do sujeito, tal como a Psicanálise a concebe.
Por
fim, o roteiro do filme e a brilhante atuação dos atores. Pela primeira vez,
encontra-se tanto uma bilheteria quanto uma narrativa para o público grande, no
fim, tão interessante quanto a transição da protagonista é a forma como a
esposa lida com a situação. Por isso, não é difícil enxergar uma heroína tanto
em Lili quanto em Gerda. Assim, A Garota Dinamarquesa a extraordinária de Lili, pode ser classificada como um belo retrato das dores do casamento e do amor incondicional.
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