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sábado, 11 de junho de 2016

Movimento Feminista é moda?

Espero que não!
Moda é algo que entra e sai e surge nova coleção de roupas ou estilos. Fico aqui, pensando sobre este movimento nos últimos tempos. Estupro coletivo, o caso em Piauí, a situação de uma menina universitária, que mentiu sendo tocada no ônibus T1 de Porto Alegre, o ator Johnny Depp agrediu sua esposa e por último o caso do cantor Mc Biel. Junta tudo isso em uma panela. Será que não estamos falando do mesmo assunto?
O fato de tais crimes acontecerem no privado/íntimo torna a sua punição dependente de uma dimensão subjetiva, que é a decisão, tomada pelas mulheres, de não aceitar se submeter às agressões, de não a ocultarem, mas as tornarem públicas, recorrendo às instituições sociais. Tal dimensão subjetiva está exposta às contradições das relações modernas entre o público e o privado. Se a esfera social/pública, por um lado, cria normas que condenam a violência contra as mulheres, por outro lado, é ainda controlada pelos próprios perpetradores da violência, que permanecem protegidos por um sistema social androcêntrico.
As mulheres podem decidir denunciar a agressão, mesmo sob o risco de romper o vínculo, o que significaria a conquista da autonomia, a emancipação em relação às normas massificadas. Mas podem também permanecer vinculadas ao agressor, recusando-se a denunciá-lo, por diversos motivos, entre eles, a própria dificuldade de contar com o apoio de instituições sociais, mas também por se tornarem reféns do dispositivo psicológico, que já assumiu as normatizações do mundo social, consolidando a culpa e o sentimento de fracasso por terem acreditado nas promessas de amor do agressor ou por assumir unilateralmente a responsabilidade pelo projeto de família.
A construção desses traços rígidos e estereotipados produz as chamadas dificuldades psicológicas, reafirmadas pelo medo e insegurança em romper com valores tão engessados socialmente. Evidente está que a luta feminista segundo a qual "o privado é público" necessitaria, para se constituir como uma prática crítica, ser apropriada pelas mulheres que sofrem violência. A percepção dos elementos distintivos entre norma moral e a construção normativa só se faz possível a partir de um engajamento crítico-político, e o feminismo possibilita essa reflexão. No entanto, desestabilizar normas morais não é uma tarefa fácil quando nos constituímos dentro dessa argamassa de violências.
A lei sem dúvida representa uma importante conquista do movimento feminista, por acreditar na eficácia simbólica da lei ao longo dos anos, mas nem de longe será responsável pela diminuição dessa prática. Pelo contrário, o que vemos no cenário atual é um recrudescimento da violência: quanto mais avançamos em termos de denúncias e resistência às agressões, maior o ódio dirigido às mulheres. Por outro lado, há um cinismo nessa prática moderna de dizer que o que se passa na esfera privada, doméstica, deve permanecer aí, justamente porque, por outro lado, a deterioração do mundo público, político, nos obriga a investir nossas intensidades e paixões no mundo privado (Sennett, 1998), o que o torna um lugar bastante vulnerável à violência.
Assim como, a partir do encontro terapêutico que constitua subjetividades políticas permite articular os aspectos socioculturais e os aspectos psicológicos implicados na prática da violência. Nesse sentido, dissolve o que parece ser uma oposição entre cultura e psiquismo, implicando as relações de gênero com a exigência, própria do mundo moderno, da autonomia em relação a determinações alheias à cultura humana. Dessa forma, fica desautorizada a manobra da razão patriarcal de fundar na natureza a oposição hierárquica entre os sexos – origem das mais distintas formas de violência contra as mulheres –, ainda que essa natureza seja uma segunda natureza, uma estrutura que se apresenta como fixa e insuperável. Torna-se necessário e urgente o desenvolvimento de uma forma especial de escuta da narrativa das mulheres que procuram ajuda por sofrerem violência. Ao narrarem suas vidas, as mulheres expressam uma multiplicidade de sentidos, tanto aqueles já fixados pela estrutura patriarcal, como sentidos genuínos, ainda que precários, que resistem a serem reintegrados nos significados e estereótipos da 'velha' estrutura.




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